sábado, 13 de junho de 2009

Paralamas do Sucesso

Acho que os anos 80 foi umas das décadas mais marcantes pra música brasileira, foi ai que surgiu Legião Urbana, Biquini Cavadão, Titãs, Barão Vermelho, Nehum de Nós, RPM, Capital Inicial, Kid Abelha, Ira, Metrô, Uns e Outros, Engenheiros, Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso,..... Acho que quase todo mundo conhece essas bandas, mas não custa falar um pouco delas aqui, relembrando as histórias e principais sucessos =). Vou começar nesse post com Paralamas, que pra mim é uma das mais marcantes até hoje e também porque acabou de passar um clip deles na VH1 e isso me deixou inspirada XD.

PARALAMAS DO SUCESSO

Não lembro qual foi a 1ª vez que escutei uma música de Paralamas na vida, desde que me entendo por gente que escuto e que tem trilhões de CDs deles aqui em casa. Papai sempre foi fã, a mãe do Herbert era tipo muito amiga de vovó, então papai conheceu logo a banda e ficou "ohhh que foda =o" babando, é uma das banda favoritas dele até hoje. Todo ano eles fazem show aqui, e todo ano vou e volto mega rouca pra casa :P huasuhas, mas o mais marcante até hoje foi o 1º realizado logo após o acidente, que deixou o Herbert paraplégico, deu vontade de chorar lá escutando um show ao vivo da banda que todos pensavam que iria acabar =~~. Enfim, histórias particulares a parte vamos ao que interessa =).

Os Paralamas do Sucesso (também conhecida somente por Paralamas) é uma banda de rock brasileiro, formada no Rio de Janeiro (apesar deles serem considerados parte da "Turma de Brasília", por terem vivido e criado amizade com as bandas locais) no final dos anos 70. O grupo ensaiava em um sítio em Mendes, interior fluminense, e na casa da avó de Bi. Esses ensaios lhe renderam a música "Vovó Ondina é Gente Fina" (essa música é bemm idiota, mas adoro ela :P). O repertório não era sério (com canções como "Pingüins já não os vejo pois não está na estação", "Mandingas de Amor" e "Reis do 49"), e tentaram criar um nome no mesmo estilo, a primeira sugestão sendo "As Cadeirinhas da Vovó". O nome "Paralamas do Sucesso" foi invenção de Bi, e adotado porque todos acharam engraçado. Seus integrantes desde 1982 são Herbert Vianna (guitarra e vocal), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria). No início a banda misturava rock com reggae, posteriormente passaram a agregar instrumentos de sopro e ritmos latinos. Informações inúteis neh?? Acho que todo mundo já deve tar cansado de saber dessas informações, além do que, devem existir milhões de textos sobre isso net a fora, então é melhor eu mudar o rumo disso...

Vital, o 1ª baterista da banda, faltou a uma das apresentações, sendo dessa forma substituído. Uma música foi escrita em sua homenagem, "Vital e sua Moto". Eles mandaram uma fita com essa e mais 3 músicas para Rádio Fluminense.

Da primeira entrevista na Rádio Fluminense até o palco do Rock In Rio, de anônimos eles passaram a promessa. "Vital e sua moto" se transformou em um dos primeiros hits daquela geração e lhes rendeu o convite para gravar um disco profissional, surgiu ai o álbum "Cinema Mudo" (definido por Herbert como "manipulado pelo pessoal da gravadora"). A mudança de conceito não mudou o espírito e a generosidade. Carregando a reboque sua turma, foram os primeiros a gravar uma música de Renato Russo e fizeram Brasília entrar no circuito até então dominado por cariocas, ajudando a redefinir fronteiras.

Aliás, falando em Rock In Rio, também está na conta deles boa parte do sucesso das bandas nacionais naquele evento que foi a primeira grande experiência do show business brasileiro. Dali pra frente, os palcos melhoraram, as turnês cresceram, as rádios deram espaço e a TV se abriu a toda uma nova cultura jovem forte e representativa que emergia. Aquele grupo de artistas relevantes era a prova disso. Havia um novo país nascendo e a trilha sonora era a dessa rapaziada. Depois do bom lançamento de "Cinema Mudo", da série de hits e sucessos (como "Óculos" e "Meu Erro") que vieram a reboque de "O Passo do Lui" e da apresentação histórica no Rock In Rio, veio "Selvagem?" (é nesse que tem o hit "Alagados"). E aí, a conta cresceu muito.

Põe aí a primeira realização concreta de um álbum brasileiro pop em que as referências anglo-americanas do rock eram fundidas com sonoridades locais e latinas - sobretudo as jamaicanas. Ali os Paralamas colocavam os primeiros tijolos daquilo que seria melhor compreendido e bem sucedido apenas na década seguinte. Nessa busca, eles ainda encontraram uma forma de ser mais populares, de fazer o rock nacional ir além da classe média e, ao mesmo tempo, de torná-lo música de exportação. Turnês pela América Latina e pelos Estados Unidos fizeram dos Paralamas a primeira banda brasileira reconhecida internacionalmente. E nessa eles foram parar no tradicionalíssimo Festival de Montreux. Dessa apresentação, tiraram o disco “D”.

A nossa conta com eles já estava ficando cara, quando veio "Bora-Bora". Ali eles resolveram mudar ainda mais a linguagem pop brasileira, oficializando o naipe de metais como parte tão vital quanto guitarra, baixo e bateria. Além disso, radicalizaram de vez na fusão com sons afro-caribenhos. Os arranjos mudaram, as dinâmicas de palco também e, de quebra, eles ainda nos ofereciam sua primeira leva de canções indefectíveis quando o assunto era dor-de-cotovelo, ressentimento e mágoas de amor. Os cacos de um coração estilhaçado afiavam a pena de Herbert e o tornavam um compositor ainda maior.
"Big Bang" (uma das mais famosas canções deles, "Lanterna dos Afogados" faz parte desse álbum) veio na sequência para tentar explodir o que havia em volta. Herbert seguia remoendo dores amorosas e ainda aproveitava para cantar o jeito brasileiro - não necessariamente o jeitinho - de sobreviver em tempos desleais. A hiperinflação, as primeiras desconfianças sobre o regime democrático e a coletiva falta de rumo asfixiavam aquela geração que, anos antes, cantava a esperança no futuro. Mais uma vez, eles eram a voz dos seus contemporâneos. E vai pondo na conta, vai pondo...

Virada aquela década, a desilusão chegou ao talo em "Os grãos"
. O país - apesar de colorido - estava sem cor, como a capa do disco. Depois de seis álbuns lançados em oito anos de carreira, viria a ânsia de se renovar e se expor ao risco, como fizeram Beatles, Stones, Beach Boys e todas as outras bandas que se tornaram maiores que a vida. Programações eletrônicas e samplers poderiam soar quase ofensivas quando a banda envolvida tinha Herbert, Bi e Barone. Mas os limites precisavam ser testados. Sobre o fio da navalha que se anda nessas horas, eles atravessaram a primeira metade da década. A nossa dívida com eles já era grande, mas ainda assim, ninguém aliviava. No aperto, foram nossos hermanos argentinos que bancaram as contas naquele momento. O clima de recessão, que só se encerraria com o Plano Real, definitivamente não parecia combinar com aqueles riscos todos, mas eles bancaram. As baixas vendas de "Os Grãos" e os questionamentos da imprensa nacional não os fizeram aliviar. Na sequência, nos deram "Severino", ainda mais duro, seco, abstrato e direto. Novos experimentos eletrônicos. Rock cru. A Argentina tinha abraçado os caras e, como resposta a nós mesmos, eles apontavam para um certo sertanismo. Tom Zé e Brian May. Poucos quiseram ouvir o disco, mas os shows sempre lotavam.

Foi da força vital de tocar ao vivo que os Paralamas se reconstruíram. Quando o Brasil começava a abrir espaço para novos grupos, de uma nova geração (a de 90), (nessa eu já existia e pude acompanhar bem \o/, por incrível que pareça, eu lembro de muita coisa, apesar da pouca idade), lançaram um disco ao vivo ("Vamo Batê Lata") que reafirmava a força de toda uma obra. Quase um milhão de discos vendidos depois, eles estavam de volta para capitanear a nau renovada do rock nacional. E o fizeram com propriedade. Inseriram no repertório dos shows as canções de Raimundos e Chico Science & Nação Zumbi, tocaram com o Skank, chamaram o Pato Fu para abrir shows e ajudaram a consolidar os novos ares da música pop brasileira. Põe mais essa na conta. Como eles não se contentariam em olhar apenas para trás, lançaram junto um EP de quatro faixas novas.
Meteram o dedo na cara do congresso e retornaram às paradas de rádio e MTV com Uma brasileira. Balada, sim, mas dançante, classuda, com naipes e teclados quentes. Moldava-se ali uma nova sonoridade pop que seria consagrada em "9 Luas" e "Hey Na Na" e que seria definitiva na assinatura musical dos caras.

Quando o formato acústico já começava a dar sinais de fadiga, os lançamentos de discos ao vivo deixavam de ser novidade, as coletâneas tomavam conta de uma indústria fonográfica à beira do precipício, eles resolveram encarar o convite da MTV para deseletrificar o show. No "Acústico MTV", os Paralamas jogaram os já famosos naipes de cordas e demais floreios orquestrais, consagrados pelo formato, pra escanteio. Esnobando a "receita do sucesso", eles optaram por manter a mesma formação musical e se dedicaram, de fato, a descobrir uma nova forma de tocar e soar. O único acréscimo foi trazer Dado Villa-Lobos, mais um guitarrista, mas para tocar violão. Não bastasse isso, eles deixaram os hits de lado e optaram por uma porção de lados-b. Ah, e em vez de teatros centenários, dá-lhe gravar num parque. Mais uma vez eles reescreviam a história do rock brasileiro. Já anotou mais essa aí na conta?

Passado o sucesso do acústico, todos diziam com naturalidade, que era hora de recomeçar, se reinventar outra vez. O problema é que ninguém imaginava que ali, essa vocação viraria sentença.

Foi um longo caminho até a volta ao estúdio em 2002. A perda de Lucy, do movimento das pernas e de parte da memória, obrigou Herbert e todos ao redor a redimensionarem gestos que, antes, pareciam banais. As histórias de como a amizade de Bi e Barone e dos estímulos a memória pela música e pelo afeto foram fundamentais à sua recuperação são emocionantes. A desgastada expressão "lição de vida" soa inevitável diante da volta desses caras às nossas próprias vidas. À nossa turma. Nessa hora, a conta com esses sujeitos fica impagável.


"Longo Caminho", o primeiro álbum pós-acidente, mostrou onde a banda estava antes da pausa forçada. Uma turnê visceral e intensa em emoções cortou o país para comemorar o reencontro com a vida. Cercados de amigos, no palco e na plateia, nos deram o CD e DVD “Uns dias”. Sem parar, emendaram no álbum "Hoje", que comprovou que a capacidade criativa dos três permanecia intacta e pulsante. Em seguida, mais festa. O sucesso da celebração de 25 anos de carreira, em um projeto conjunto com os camaradas dos Titãs, foi um atestado de sanidade de toda aquela geração que, no início da década de 80, fez o novo acontecer e, a partir dali, escreveu a própria história...

Mas depois da festa, a labuta se apresentou novamente. E sem essa de acordar de ressaca. A tal história está ficando bonita, mas ainda tem muito a ser escrita. O álbum "Brasil Afora" é a trilha sonora do novo capítulo que se inicia - e do rumo que sempre norteou o som -, a proximidade de quem divide intimidades, a mesa onde cabe mais um. Sim, é só chegar.


A essa altura, qualquer um já desistiu de pagar essa conta com os caras. E já que eles não estão cobrando mesmo, segura, passa a régua e pede mais uma.

ps.: boa parte do que escrevi aqui foi retirado de um texto escrito por Bruno Maia e Bernardo Mortimer, em abril de 2009